Sra Isabel! by Cindy
Anda a correr meio mundo o texto que a Isabel Stilwell escreveu no Destak. Podem lê-lo aqui.
A senhora, tal como todos nós, tem direito à sua opinião.E por essa blogosfera fora, já muitos deram a sua opinião, aqui e aqui.
E portanto, eu enquanto trabalhadora, enquanto jovem e principalmente enquanto cidadã deste belo paraíso plantado à beira-mar, posso e devo discordar do artigo publicado no Destak.
Já aqui várias vezes falei sobre a minha precaridade laboral e da sensação de impotência e injustiça isso me transmitia e minava por dentro. Mas para aqui poder exprimir a minha revolta face às palavras da senhora vou aqui resumir a minha experiência profissional.
Tirei a minha licenciatura em Arquitectura e a fase seguinte seria estagiar por um ano num gabinete de modo a poder pertencer à Ordem dos Arquitectos e a ter o título de Arquitecta.
Na altura tive duas propostas, uma do Metro do Porto e uma do gabinete onde o pai de uma amiga minha trabalhava. Optei pela segunda hipótese porque pensei que aprenderia mais e era isso que se esperava de um estágio. Estagiei durante um ano a ganhar 325€ a recibos verdes e estando isenta de SS, achei que a situação até era vantajosa. Tinha 8h de trabalho diário, férias e subsídio de Natal e férias.
Após o estágio quiseram ficar comigo e propuseram-me 750€ a recibos verdes, mas com a promessa de contrato e aumento no horizonte. Tal nunca se concretizou. Com ter de pagar segurança social, IRS e depois IVA, a situação resumia-se a trazer 400€ para casa. Por esta altura já estava a viver em união de facto e 400€ ao final do mês não era nada. Ou melhor, era a renda da casa. E alimentação? E transportes? E lazer? Lá ia fazendo ginástica com as minhas poupanças e guardava sempre os subsidios para as despesas que eu sabia iriam surgir durante o ano.
Entretanto em Julho de 2009 fui informada que a empresa ia abrir falência e eu que estava "emprestada" a um arquitecto passei a trabalhar directamente com ele, nas mesmas condições mas novamente com promessas de aumentos e contrato. O que só se veio a concretizar em Abril de 2010. O ordenado continua basicamente o mesmo.
E perguntam vocês, se estás mal, porque não mudas?
Vejo colegas meus de profissão a aceitarem trabalhos em que pagam o salário mínimo e a recibos verdes. Vejo ofertas de trabalho escandalosas para licenciados. E chego rapidamente à conclusão que não estou assim tão mal.
Afinal de contas nunca estive desempregada.
Isto tudo para dizer que sim senhora estamos em crise. Mas que mesmo assim os patrões, o Estado, se socorre desse argumento para todas as barbaridades. Já aqui expus a situação contributiva de um trabalhador a recibos verdes.
Mas torno a repeti-la.
Este ano um trabalhador que aufira 1000€ brutos, pagando a SS, IRS fica apenas com 578€. E meus amigos, nós bem sabemos que ordenados de 1000€ são raros. Agora imaginem quem ganhe ainda menos... E o recibo verde é sempre pior que um contrato! Além de que a maior parte é um falso recibo verde. Pessoas como eu que tinham horário e local de trabalho. E direitos = 0.
Depois admiram-se que as pessoas adiem o casamento, a maternidade e outros planos de vida.
xoxo
cindy